Experiências
opereta
Portugal – Conquistas e Descobertas
Portugal - Conquistas e Descobertas.pdf (195,3 kB)
Aproveito para partilhar, neste espaço, uma experiencia ocorrida no ano lectivo 2010/2011, na escola onde leccionava.
A música, nessa mesma escola, sempre teve um papel importante nas festas de final de ano.
Depois de me solicitarem a realização de um espectáculo para o fim do ano, resolvi escrever uma cantata/opereta pedagógica onde entraram todos os alunos, dando destaque aos alunos finalistas (4ºano). Achei por bem que esta tivesse algum teor pedagógico uma vez que, a música e/ou as actividades musicais realizadas na escola não visam a formação de músicos mas sim propiciar a abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser.
O tema que escolhi foi a história de Portugal pelo facto de ser um tema abordado em Estudo do Meio e, assim, criar alguma interdisciplinaridade. Além de ser uma representação cantada e narrada, com a introdução de percussão corporal, também foram inseridas danças, propositadamente, para envolver mais uma área – Educação Física.
Sendo uma cantata/opereta, foi dado um grande realce a voz e ao domínio que os alunos já tinham sobre a mesma. A voz é o nosso primeiro instrumento e é o mais sensível e delicado de todos os instrumentos! Só com o uso cuidado e responsável é que ela pode ser mantida saudável e forte.
A educação musical, associada à prática vocal, trabalha os vários elementos da música e permite uma maior qualidade na produção musical. Trata-se de uma ferramenta chave na educação auditiva. O trabalho em grupo visa uma maior eficiência no desempenho colectivo dos indivíduos ajudando-os em questões de socialização, assim como de bem-estar e de paz interior. A Música é uma linguagem universal, completa, puramente intuitiva e uma forma de expressão espontânea. O gosto pela Música é natural nas crianças. Elas gostam de a ouvir, de a cantar e de a tocar. Não se pode ignorar a importância da Música na formação do Homem, porque ela faz parte da essência do ser humano.
O trabalho desenvolvido em sala de aula e nos ensaios com todos os alunos envolvidos, penso que foi potenciador de relações interpessoais pois, permitiu aos alunos a transmissão e partilha de sentimentos e emoções. Através da música perdem-se medos e inseguranças; todos os momentos que antecederam o espectáculo foram tidos como um espaço de partilha e de convívio. Através da música, até a mente mais tímida e insegura se revela. Penso que a música, mais especificamente as canções, têm um valor pedagógico acrescido no contexto geral da educação e no contexto específico da comunicação.
Eu, como professor, tive que investigar bastante sobre o assunto abordado. É importante o papel que o professor tem enquanto orientador deste(s) projecto(s). O professor, nos tempos que correm, é obrigado a estar em constante actualização, terá que ser investigador, para que assim consiga responder às necessidades dos seus alunos.
O espectáculo correu muito bem! Houve colaboração de toda a comunidade escolar e uma grande envolvência dos Encarregados de Educação. Estes últimos conseguiram arranjar indumentárias características para todos os alunos das três turmas de 4ºano e, assim, caracteriza-los conforme tinha sido idealizado por mim na escrita da cantata/opereta.
A preparação dos alunos começou no decorrer do segundo período e, no que diz respeito à planificação das aulas que antecederam a este momento musical, as aulas de Música começaram a ser divididas em três momentos:
- Exercícios de relaxamento;
- Exercícios de aquecimento vocal;
- Leitura e ensaio das peças musicais que constituem a opereta.
Um coro não produz um som equilibrado, homogéneo e natural automaticamente. Para isso, os alunos que participaram nesta opereta, tiveram que aprender a criar sons equilibrados e homogéneos, quando cantavam em conjunto, e desenvolveram o ouvido para a música através de exercícios para esse fim.
Foi explicada aos alunos a importância dos exercícios de relaxamento e de aquecimento, realizados na primeira e segunda parte da aula. Os exercícios que foram desenvolvidos são tão importantes como o aquecimento que um atleta faz antes de um treino ou competição. Inicialmente, não foi notório o progresso da voz (no que diz respeito a este ponto, o trabalho deveria ter sido desenvolvido mais cedo). As pequenas melhorias, que cada aluno sentiu, realçaram o som do coro como um todo e o volume ganhou intensidade, homogeneidade e versatilidade. Uma continuidade destes exercícios irá tornar a voz mais forte, suave e mais brilhante. Espero que este trabalho seja tido em consideração pelos professores que me sucederam, na educação musical destes alunos.
O primeiro momento foi a realização de exercícios de relaxamento. O treino da voz deve começar sempre com vários exercícios de relaxamento de forma a preparar os alunos para cantarem. Com os exercícios de relaxamento, pretendeu-se fazer com que os alunos se apercebessem como é que uma má postura corporal pode ser prejudicial para o canto. Ter-se uma postura correcta quando se canta é um pré-requisito básico para uma boa performance vocal.
Os exercícios de relaxamento foram realizados numa atmosfera descontraída, alegre e entusiasta e assim, promoveu-se a consciência corporal, a sensação de bem-estar, aumentou-se a consciência da acção do diafragma e o processo da respiração, activar a capacidade de ressonância do corpo e ilustrou-se que a música e o movimento se interligam.
Numa segunda parte da aula, realizaram-se os aquecimentos vocais. Um atleta corre um pouco para aquecer antes de uma corrida tendo como propósito relaxar e agilizar os membros – os cantores cantam também para aquecer. Uma voz aquecida assegura um canto relaxado e menos vigoroso e assim, irão notar-se menos sinais de fadiga da voz. Os exercícios de aquecimento seleccionados não foram cansativos e os alunos foram prevenidos que não deviam gritar e forçar a voz nos mesmos, para que atinjam uma voz clara e natural.
Os exercícios de aquecimento devem ajudar (e espero que tenham ajudado) os alunos a aprender “a ouvirem-se a eles próprios” e a tomarem consciência do controle crítico da sua voz. Uma vez que, todos os exercícios que foram utilizados nas aulas usaram intervalos, cantá-los promove o bom ouvido levando a uma entoação clara. Também, podem fazer com que os alunos tomem consciência de como usar a pronunciação uniforme e a correcta formação das vogais, podem ajudar à projecção vocal e atingir as notas graves e agudas sem esforço.
Os exercícios de aquecimento vocal não podem ser vistos como elementos isolados, os seus objectivos ultrapassam isso.
Os exercícios foram escolhidos e adaptados às vozes existentes, às fragilidades dos alunos e à música que foi cantada na terceira parte da aula. Foram, por minha parte, criadas continuamente novas rotinas de aquecimento para as várias aulas, para que os alunos não se aborrecessem ou se distraíssem.
Depois de realizados os exercícios de relaxamento e os exercícios de aquecimento iniciava-se a parte da leitura/estudo das peças musicais.
Nesta terceira parte da aula, pude gerir a aula da maneira que entendi, de forma a ir ao encontro das lacunas do grupo e das dúvidas que surgiram nas diversas aulas. Tive que me adaptar às situações que foram ocorrendo.
A contextualização da obra e a explicação da mesma ficou a cargo dos professores titulares de turma. Alguns dos aspectos focados na mesma já tinham sido abordados uma vez que, a História de Portugal esta contemplada no programa do 1ºciclo.
A articulação com as outras áreas do conhecimento contribuíram, não só para a transferência de saberes, como também para uma compreensão mais profunda das dimensões artísticas, daí o meu cuidado para que esta opereta se assumisse pedagógica.
Um dos aspectos fulcrais na formação musical é a compreensão das relações entre a música e as outras áreas de conhecimento. Ao articular a música com outros contextos causa uma transformação de saberes assim como um entendimento mais profundo das dimensões artísticas.
O único aspecto negativo que tive a apontar foi o pouco tempo disponibilizado para a realização dos ensaios das músicas da opereta. Penso que, deveria ter começado com o trabalho do repertório logo no início do 2º período. As aulas do 3º período tiveram que ser repartidas para o aperfeiçoamento das músicas e para os ensaios de toda a parte dramatúrgica.
Filipe Reis Teixeira